sexta-feira, 20 de julho de 2007

DA SÉRIE: ÁLBUNS SUBESTIMADOS - CAPÍTULO CLXXVII – POWERAGE (AC/DC)


Temos um grande amigo indiano, chamado Raffah Mahiah, que aliás deveria estar participando deste blog, mas até agora não deu as caras. Cara bom, inteligente, especialista em esportes (qualquer esporte, pelo que sei), fã de música pop anos 80 (o que não é demérito algum) e, como todos os demais aqui presentes, um grande frasista. Uma de suas pérolas, aqui totalmente descontextualizada, mas que ainda assim guarda um grande potencial é: “Adoro quando me subestimam”.

Sempre lembro desta frase do velho Raffah quando penso em lançamentos de grandes artistas que sejam absolutamente rechaçados por público e/ou crítica. Aqueles discos que simplesmente todo mundo diz para você não ouvir, não comprar e ainda sacanear quem comprou.

Sendo assim, ao longo das últimas décadas fomos condicionados a subestimar alguns discos de grandes grupos. Todo mundo que gosta de música sabe das “bolas fora” que seu artista preferido cometeu. A lista é interminável, mas vale citar alguns (apenas para que eu imagine um leitor dizendo: “ah, é mesmo, tem esse também”): The Seventh Star (Black Sabbath), Unmasked (Kiss), Undercover (Rolling Stones), aquele do Miles Davis em que ele toca “Human Nature”, do Michael Jackson (né Feluc???), os discos do Iron Maiden com o Blaze Bailey, Calling All Stations (Genesis), Metal Machine Music (Lou Reed), Squeeze (Velvet Underground), os discos dos Doors sem o Jim Morrisson, e por aí vai.

Necessário confirmar que alguns dos discos citados e dentre os outros 150 que qualquer um vai lembrar, existem discos ruins mesmo. Você ouve uma vez, ouve a segunda, a terceira, morre de pena, mas não tem jeito, ele vai para a prateleira mais alta e mais escondida da sua casa e, quem sabe daqui a uns dez anos, a gente ouve de novo e vê se não tem pelo menos uma boa virada de bateria ou um bom arranjo de trombone em alguma das faixas que valha uma nova audição.

Todavia existem grandes trabalhos que, por algum motivo, às vezes inexplicável, foram relegados a um segundo plano. É sempre um grande prazer descobri-los. Claro que em tempos idos, quando a grana era muito curta e você mal e mal conseguia comprar um vinilzão por mês, porque a mesada não comportava mais que isso, a gente simplesmente ignorava estes trabalhos. Porém, em tempos de banda larga, fica mais fácil acessar um álbum desses e julgar se vale a pena tê-lo a mão ou não.

Uma dessas gratas surpresas é o disco “Powerage”, gravado em 1978, pelo AC/DC e que nesses dias insiste em não sair do meu player.

O leitor aí tem mais de trinta anos (também)? lia aquelas antigas revistas da Som Três escritas pelo Paulo Ricardo (mais tarde baixista do RPM)? Então você sabe do que eu estou falando. Qualquer matéria que a gente tenha lido sobre esta primeira fase do grupo australiano, ainda com o vocalista Bon Scott, afirma que os grandes petardos do período são exatamente os discos que fazem fronteira com o acima citado. “Let There be Rock”, de 77 e “Highway to Hell”, de 79, aliás o último disco deste ótimo e inesquecível “rock singer”.

Outrossim, qualquer matéria sobre o disco “Powerage” começaria, invariavelmente assim: “apesar de menos inspirado que seu antecessor...” ou algo parecido. Claro que qualquer fã obsessivo do AC/DC vai dizer, “mas esse néscio não sabia que esse disco é ótimo?” Pois é amigos, realmente eu não sabia. Mas agora, indico-o sem medo de ser feliz.

O disco já abre com a pedrada “Rock’n’Roll Damnation” e qualquer nematelminto já sabe do que se trata. É AC/DC puro: a levada, as guitarras, o vocal, a estrutura da música... não precisa nem fazer exame de DNA. O disco segue com “Down Payment Blues”, seu ótimo trabalho de guitarras e seu final roots, para que ninguém se esqueça da fonte onde beberam os irmãos Young; mais um blues sacana vem na terceira faixa do lado A (a velha divisão de lados e a distribuição das músicas que faziam parte da mítica do velho vinil, fazem todo sentido neste disco), “Gimme a Bullet”. A seguir, fechando o lado, a surpreendente “Riff Raff”, uma das grandes levadas de guitarra, baixo e bateria de toda a história da banda. Cliff Williams diz a que veio nas quatro cordas, Phil Rudd tem uma de suas melhores performances nas baquetas e os irmãos Young estão possuídos.

O lado B abre com outra música sempre lembrada em shows e coletâneas: “Sin City”, que segue a mesma dinâmica de “Jailbreak”, de 1974, isto é, aquela queda meio dramática no meio da música e o retorno triunfal ao refrão. Depois tem a mais fraquinha de todas, “What’s Next to The Moon”, típica música para ser a segunda do lado B (tenho de falar mais sobre isso algum dia, né Filipe?). A terceira é “Gone Shooting”, mais lenta, muito boa e com mais uma grande mostra do vocal “alcohol and cigarretes” do saudoso Bon Scott. A seguir, a paulada de “Up to my neck in you” com seus solos cristalinos e sua letra sobre toda a sorte de excessos. Algumas edições trazem uma faixa-bônus, a rápida e “zepeliniana” “Kicked in the Teeth”, outras edições ainda possuem o “b-side” “Cold Hearted Man”, raridade a ser descoberta por sua qualidade. Aliás, se o seu Powerage não tiver essa faixa, vale uma rápida procura na web.

Com pouco mais de meia hora de duração (no original), “Powerage” dos australianos do AC/DC é um disco comumente subestimado. De fato ele não tem o número de “hits” contidos em outros trabalhos do mesmo período. Mas, na verdade, é uma beleza de trabalho ! Não o deixe jamais de lado !

E antes que eu me esqueça Salam Aleikum ! velho Raffah, apareça quando puder. Fetter.

Um comentário:

Filipe disse...

Escrever sobre AC/DC e usar "outrossim"? Só mesmo o menino Fetter, esse defensor das minorias, que protege álbuns geralmente relegados a prateleiras de "R$ 9,99, só hoje!" das Lojas Americanas.

Mas a verdade é que nenhum artista é grande sem um disco ruim, nenhum álbum é genial sem aquela terceira faixa do lado b horrorosa. A imperfeição tem sua beleza.