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terça-feira, 5 de maio de 2009

Um dos porquês de Israel.

05/05/2009
Henri Levy: em memória da resistência

Bernard-Henri Levy
Do "Le Point"

Não deveríamos, alguns perguntam, deixar os mortos descansar em paz e deixar o esquecimento, o misericordioso esquecimento, curar as feridas do passado? Sim, é claro que deveríamos. E eu até mesmo direi que não há nada mais judeu, mais consistente com os mandamentos da Torá, do que a injunção religiosa para enterrar os mortos rapidamente, de uma vez por todas. Exceto... sim, exceto os mortos que não foram realmente enterrados.Exceto pelos mortos cujas mortes não envolveram túmulo ou memorial. Exceto pelos mortos cujas mortes foram tramadas para não deixar vestígio, nenhum resto mortal e, portanto, nenhuma sepultura. Logo, cabe aos vivos serem os túmulos desses mortos. É o dever dos sobreviventes, e dos filhos dos sobreviventes, carregar dentro de si a memória das vítimas. "Os mortos, os pobres mortos, estão em muita dor"; "Nós somos os túmulos de nossos pais" -estas são as palavras de um dos grandes poetas franceses, Charles Baudelaire. Este é o caso da Shoah (Holocausto).

"Este crime", alguns dizem, "foi certamente um crime terrível. Mas como alguém pode dizer que foi um crime maior do que todos os outros crimes? E por que insistem em declará-lo excepcional naquela série de feitos malignos que é a história humana?"Nós não estamos insistindo em nada. Nada é mais estranho à tradição judaica do que estabelecer qualquer tipo de escala ou hierarquia de mortes. Exceto que algo a respeito da Shoah foi sem precedente. E esse algo é uma caçada humana e um massacre que significava não apenas a ausência de qualquer vestígio de uma tumba, mas também que era impossível para os caçados encontrar um local, qualquer lugar, para escapar de seus executores.

Os armênios, que foram (e isso também é frequentemente questionado) as vítimas do primeiro genocídio na história, só foram perseguidos na Turquia. Os tutsis, os cambojanos, os darfurianos (cujo genocídio deve ser denunciado com a mesma força) podiam, pelo menos na teoria, caso encontrassem asilo em um país vizinho, escapar das garras dos assassinos. Não havia escapatória para os judeus. Toda a Europa se transformou em uma imensa armadilha para o jogo de caça aos judeus dos cães da Wehrmacht e da SS. Um extermínio - um excruciantemente singular - do qual não havia refúgio, pois seus perpetradores não queriam deixar nenhum vestígio.Esta noção de extermínio total é importante por outro motivo muito preciso e concreto: a existência de Israel. Há outra idiotice ouvida em toda parte que consiste do seguinte: "Sim, foi um crime; sim, se é absolutamente necessário admitir, um crime singular. Mas quanto aos sobreviventes da tragédia, por que não foram transferidos para a Alemanha? Por que estabelecer uma pátria nacional judaica no mundo árabe - a única parte do mundo que não participou do crime?" E a resposta permanece a de que o próprio mundo logo se tornou uma armadilha para o povo judeu. Não havia um único lugar onde o vento dessa morte não soprasse, e o mundo árabe não se distanciou, não mais do que qualquer outro país, deste plano de extermínio total.

Hoje nós temos informações muito detalhadas sobre o assunto. Nós temos memórias do Grão Mufti de Jerusalém descrevendo, cruelmente, sua admiração por Hitler durante toda a duração da guerra. Nós temos o trabalho de historiadores - notadamente Klaus-Michael Mallmann e Martin Cuppers- citando a existência de uma tropa de oficiais da SS aguardando na retaguarda do exército de Rommel pela ordem de reunir uma legião de voluntários árabes, para tomar a Palestina e exterminar os 500 mil judeus que já tinham se assentado lá. Nós sabemos, em outras palavras, que o nazismo foi uma ideologia global que se manifestou em diferentes versões nacionais. (Isso não muda nada quando se trata da luta necessária pela democracia no mundo árabe e, em particular, pelo futuro do Estado palestino.)

O Parlamento israelense poderia, quando foi decidido há mais de 50 anos inscrever o dia para marcar a data nos calendários das nações, escolher o aniversário da abertura dos campos de extermínio. Ele poderia ter escolhido qualquer outro dia (e as datas são legião!) para marcar o martírio dos judeus ao longo das eras. Mas não. Ele escolheu o dia 27 de Nissan no calendário hebreu; neste ano, observado em 20 de abril do calendário gregoriano. Em outras palavras, o aniversário do Levante de Varsóvia. E, nas vigorosas discussões em relação a esta escolha, notadamente no debate entre o primeiro-ministro de Israel, David Ben-Gurion e os seguidores religiosos do judaísmo, este detalhe certamente não passou desapercebido por ninguém.

O que significava? Que temos que colocar um fim ao clichê do povo judeu caminhando para a morte como cordeiros para o abate. Nós temos que celebrar, ao mesmo tempo que lembramos o crime, do episódio heróico em Varsóvia que foi seguido por revoltas em Sobibor, Birkenau, Treblinka. Que é importante, em outras palavras, marcarmos não apenas o massacre, mas também a resistência.Para mim, o filho não de um deportado, mas sim de um membro da Resistência Francesa, esta vontade de agir é fundamental. Há sempre, mesmo na noite mais escura, um local para insurreição e esperança. Nós lembramos da Shoah para recordar a todos os povos do mundo que sempre é possível, sempre, se rebelar.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Folha, hoje. PERFEITO !!!!

Mudar as palavras.
João Pereira Coutinho, colunista da Folha.
Israel está novamente em guerra com os terroristas do Hamas, e não existe comediante na face da Terra que não tenha opinião a respeito. Engraçado. Faz lembrar a última vez que estive em Israel e ouvi, quase sem acreditar, um colega meu, acadêmico, que em pleno Ministério da Defesa, em Jerusalém, começou a "ensinar" os analistas do sítio sobre a melhor forma de acabarem com o conflito. Israel luta há 60 anos por reconhecimento e paz.Mas ele, professor em Coimbra, acreditava que tinha a chave do problema. Recordo a cara dos israelenses quando ele começou o seu delírio. Uma mistura de incredulidade e compaixão.
Não vou gastar o meu latim a tentar convencer os leitores desta Folha sobre quem tem, ou não tem, razão na guerra em curso. Prefiro contar uma história.
Imaginem os leitores que, em 1967, o Brasil era atacado por três potências da América Latina. As potências desejavam destruir o país e aniquilar cada um dos brasileiros. O Brasil venceria essa guerra e, por motivos de segurança, ocupava, digamos, o Uruguai, um dos agressores derrotados.Os anos passavam. A situação no ocupado Uruguai era intolerável: a presença brasileira no país recebia a condenação da esmagadora maioria do mundo e, além disso, a ocupação brasileira fizera despertar um grupo terrorista uruguaio que atacava indiscriminadamente civis brasileiros no Rio de Janeiro ou em São Paulo.
Perante esse cenário, o Brasil chegaria à conclusão de que só existiria verdadeira paz quando os uruguaios tivessem o seu Estado, o que implicava a retirada das tropas e dos colonos brasileiros da região. Dito e feito: em 2005, o Brasil se retira do Uruguai convencido de que essa concessão é o primeiro passo para a existência de dois Estados soberanos: o Brasil e o Uruguai.
Acontece que os uruguaios não pensam da mesma forma e, chamados às urnas, eles resolvem eleger um grupo terrorista ainda mais radical do que o anterior. Um grupo terrorista que não tem como objetivo a existência de dois Estados, mas a existência de um único Estado pela eliminação total do Brasil e do seu povo.
É assim que, nos três anos seguintes à retirada, os terroristas uruguaios lançam mais de 6.000 foguetes contra o Sul do Brasil, atingindo as povoações fronteiriças e matando indiscriminadamente civis brasileiros. A morte dos brasileiros não provoca nenhuma comoção internacional.
Subitamente, surge um período de trégua, mediado por um país da América Latina interessado em promover a paz e regressar ao paradigma dos "dois Estados". O Brasil respeita a trégua de seis meses; mas o grupo terrorista uruguaio decide quebrá-la, lançando 300 mísseis, matando civis brasileiros e aterrorizando as populações do Sul.Pergunta: o que faz o presidente do Brasil?Esqueçam o presidente real, que pelos vistos jamais defenderia o seu povo da agressão.
Na minha história imaginária, o presidente brasileiro entenderia que era seu dever proteger os brasileiros e começaria a bombardear as posições dos terroristas uruguaios. Os bombardeios, ao contrário dos foguetes lançados pelos terroristas, não se fazem contra alvos civis -mas contra alvos terroristas. Infelizmente, os terroristas têm por hábito usar as populações civis do Uruguai como escudos humanos, o que provoca baixas civis.Perante a resposta do Brasil, o mundo inteiro, com a exceção dos Estados Unidos, condena veementemente o Brasil e exige o fim dos ataques ao Uruguai.Sem sucesso. O Brasil, apostado em neutralizar a estrutura terrorista uruguaia, não atende aos apelos da comunidade internacional por entender que é a sua sobrevivência que está em causa. E invade o Uruguai de forma a terminar, de um vez por todas, com a agressão de que é vítima desde que retirou voluntariamente da região em 2005.
Além disso, o Brasil também sabe que os terroristas uruguaios não estão sós; eles são treinados e financiados por uma grande potência da América Latina (a Argentina, por exemplo). A Argentina, liderada por um genocida, deseja ter capacidade nuclear para "riscar o Brasil do mapa".Fim da história? Quase, leitores, quase. Agora, por favor, mudem os nomes. Onde está "Brasil", leiam "Israel". Onde está "Uruguai", leiam "Gaza". Onde está "Argentina", leiam "Irã". Onde está "América Latina", leiam "Oriente Médio". E tirem as suas conclusões. A ignorância tem cura. A estupidez é que não.