segunda-feira, 30 de julho de 2007

Controle (1)

Gramofone e rádio, duas invenções do fim do século XIX, foram decisivos no surgimento de parte da indústria do entretenimento como a conhecemos no século XX. Me refiro, claro, à indústria fonográfica, fruto da possibilidade, então inédita, de se escutar música sem a presença física dos intérpretes. Daí, durante muito tempo, até os anos 70, não havia muita escolha: ou se ouvia o que as rádios queriam tocar ou se comprava os discos, do jeito que as gravadoras escolhiam como seriam vendidos.

A coisa melhora para a indústria quando os discos passam a suportar cerca de 45 minutos de música, em ambos os lados. Nascem os long playings, os LP's, se tornando populares nos anos 50. Principalmente no Brasil agora era preciso pagar por dez, doze faixas, mesmo quando só se queria escutar uma ou duas.

A primeira alternativa prática e acessível para fugir disso nasce com a popularização de uma invenção da Phillips: a fita cassete. Criada em 1963, é nos anos 70 que a "pequena caixa" com fita magnética ganha espaço, graças a melhor qualidade dos aparelhos de som e dos próprios "K7". Se torna então possível gravar as músicas que tocavam no rádio, para escutá-las de novo quando se quisesse. E, ainda melhor, se podia gravar álbuns, tirando aquelas faixas que eram ruins ou até fazer coletâneas de vários discos e artistas.

Nos anos 80, o sucesso cresce com o surgimento de um aparelho toca-fitas, cuja grande sacada era eliminar os alto-falantes, para que o som fosse ouvido apenas em fones de ouvido, o tornando prático e verdadeiramente portátil. Era o "Walkman", da Sony.

primeiro modelo de Walkman, de 1979

O ouvinte deixava de ser um consumidor passivo, afinal agora era possível escutar a música que se quisesse e também onde se quisesse. O controle, ainda que de forma tímida e limitada, mudava das mãos da indústria fonográfica para a do público. A consequência disso foi a campanha publicitária alegando que gravar cassetes era não só crime como prejudicial aos artistas.


A "pirataria" via K7 era por demais pequena para incomodar a indústria de mídia, na verdade. Mesmo a real pirataria - a que envolvia venda de fitas - tinha seu alcance limitado pela baixíssima qualidade de som dos produtos falsificados. A crítica à gravação caseira, portanto, era pela perda do controle do que se escutava, e como, e onde.

Mas para sorte da indústria de música, os anos 80 também veriam nascer o Compact Disc, aposentando os discos de vinil primeiro e a fita cassete em seguida. Apesar de ter tornado os álbuns mais caros e da crítica dos puristas sobre o som, o CD vence pela praticidade e comodidade de seu formato.

No volume total a venda de álbuns cresce sem parar na década de 90, com a popularização do novo disquinho, inclusive com muitos readquirindo no modelo digital álbuns que antes tinham em vinil. Não demorou para o Walkman se tornar Discman e ser possível ouvir os discos digitais no formato portátil. Mas nada mais de gravar suas próprias coletâneas.

O controle parecia ter voltado a seus antigos donos.

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