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quarta-feira, 24 de outubro de 2007

The Cure - The Head on the Door

The Head on the Door (1985)

Em 1985 o The Cure já havia lançado 6 discos e mudado seu som pelo menos duas vezes, indo de pérolas pop como "Boys Don't Cry" a músicas soturnas, como "Charlotte Sometimes", que lhe valeram o rótulo de banda gótica (ou dark, como se dizia aqui) para voltar ao pop com "Let's Go To Bed" e outras.

É com base nessa mistura que sai The Head on the Door, onde a banda mostraria um pouco de tudo que tinha feito, e até apontando rumo do que faria posteriormente. Conseguem, assim, mais sucesso de vendas que qualquer coisa anterior que haviam lançado, chegando a novos públicos (como nessas plagas tupiniquins).

Para não haver dúvidas, o disco abre com uma rápida mas poderosa virada de bateria, iniciando "In Between Days". Com 30 segundos a música se mostra toda: teclados se alternando na melodia de estrofe e refrão, baixo e violão fazendo a base, sem deixar espaços vazios, até entrar o vocal de Robert Smith, cantando sobre rejeição e arrependimento (tema que se repetiria ao longo do disco). Ficava difícil não gostar da música, que foi o primeiro single do álbum. Foi difícil não escutá-la na época, de tanto que tocou.

A primeira metade do disco continua quase impecável. A banda brinca com os arranjos nas faixas seguintes, indo de teclados "caixinha de música japonesa" em "Kyoto Song", para violões flamencos (e castanholas) na pulsante "The Blood" (outra sobre arrependimento e perda). Ambas ótimas.

"Six Different Ways" é levada só nos teclados e, se não mantém o nível das anteriores, também não desagrada - pop song simpática. Fechando o que era o lado A do disco de vinil vem a quase instrumental "Push", com sua longa introdução, sempre com a dinâmica lá para cima - como na faixa de abertura - e com as melhores guitarras do disco. Outra faixa excelente

Na segunda parte do álbum as faixas são mais irregulares. "The Baby Screams" é outro eletropop, acelerada mas com uma melodia que não "pega" em hora alguma, tão fraca quanto "Screw", guiada pelo baixo e cheia de barulhinhos, propositalmente esquisita, como tantas outras músicas da banda, mas também sem empolgar. Mas é tão curta que não atrapalha.

Entre as duas, porém, estão "Close To Me" e "A Night Like This". Segundo single do disco e uma das músicas mais conhecidas da banda, "Close To Me" é, de certa forma, o lado oposto de "In Between Days": quase minimalista, vocal meio sussurrado, espaços vazios, bateria acompanhada de palmas. Tudo soando de forma suave, contrastando com a ansiedade da letra. A versão do disco não tem metais, presentes no single (que está na coletânea Standing on a Beach/Staring at the Sea), o que torna a música mais claustrofóbica. E sensacional.

Na sequência, "A Night Like This". A menos famosa do trio que mais se destaca no disco só que igualmente genial. Novamente falando em arrependimento e perda, Robert Smith passa toda dor do fim de um relacionamento, enquanto arranjo e melodia juntam teclado e guitarra de forma grudenta e envolvente, em um pop elegante, "classudo", com direito a solo de sax.

O disco fecha com "Sinking", música mais longa e mais melancólica de The Head on the Door. Soa como os discos "góticos" da banda do começo da década de 80, tem uma bela melodia, mas talvez encerre o álbum com um tom mais triste que deveria. Mas é inteiramente The Cure, sem dúvida.

Robert Smith compôs sozinho todas as dez músicas do álbum, fato que não se repetiu nenhuma outra vez. Em seguida o The Cure lançaria a coletânea que sacramentaria de vez seu sucesso comercial, Standing on a Beach/Staring at the Sea, de 1986. E antes do fim da década ainda lançariam um álbum duplo e aquele que, para muitos, é o melhor trabalho da banda - Disintegration, de 1989. Mas The Head on the Door tem o mérito de, como nenhum outro, reunir a essência do estilo do grupo.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Queen - The Game


O disco começa e por um instante dá para pensar que é a trilha sonora de Flash Gordon, também feita pela banda. Mas o som dos sintetizadores (pela primeira vez usados pelo Queen) logo dá lugar a Freddie Mercury dizendo "abra sua mente e me deixe entrar, descanse sua cabeça e deixe seu coração decidir". Os versos iniciais da música Play the Game soam como um convite a conhecer e aceitar a banda reinventada por eles mesmos.

Esqueça o hard rock, o arena rock e até o art rock que apareciam nos álbuns anteriores. Mudou a década e o Queen mudou com ela, mirando pela primeira vez (e acertando) o pop em um dos seus trabalhos: The Game, álbum de 1980.

A alternância de estilos entre as músicas permanece, mas não soa mais tão radical. As arestas estão todas aparadas, todas as faixas em torno de 3 a 4 minutos de duração, e mesmo quando a idéia é ser mais pesado, a música soa sempre agradável, nunca agressiva. O que pode aparentar ser sinal de decadência ou de banda "vendida" na verdade se revelou um jeito inteligente de continuar em evidência fazendo boa música, quando seus contemporâneos todos estavam sem rumo. Sem os excessos e exageros típicos dos anos 70, o Queen continuou fazendo enorme sucesso na década seguinte, a partir de The Game.

A faixa de abertura (a já citada Play The Game) é uma balada típica do Queen. Composta por Freddie Mercury, bem pensada e bem executada em todos os detalhes. Eles fazem até parecer fácil, mas eles mesmos tentariam outras vezes acertar a mão como nesta faixa, sem tanto sucesso (como em It's a Hard Life).

Dragon Attack é mais Queen-nos-anos 70, faixa hard rock mas naquele tom: nada além do ponto, música para tocar no rádio. Faixa do guitarrista Brian May, mas quem rouba a cena é o baixo de John Deacon.

A primeira grande surpresa é a funkeada disco-rock Another One Bites The Dust. Será que quando os Stones quiseram soar "modernos" com Emotional Rescue, era em algo assim que eles pensavam? Conduzida pelo baixo, não à toa a música é do baixista John Deacon, membro menos famoso e mais tímido da banda, que hoje em dia sequer dá entrevistas. A música foi o primeiro single do Queen a chegar ao topo das paradas nos EUA.

Need Your Lovin' Tonight, a faixa seguinte, também é de Deacon, mas soa sem grandes inovações, rock básico, meio anos 60, meio beatles até. Pop song divertida.

De novo o Queen surpreende em Crazy Little Thing Called Love, rockabilly grudento, simples e eficiente, enorme sucesso nas paradas também (outro nº 1 nos EUA). Mercury escreveu e Elvis Presley a regravaria, se já não estivesse aposentado na época.

No que era a abertura do lado B, do disco em vinil, Freddie Mercury começa cantando acompanhado só da guitarra em Rock It. Mas com menos de um minuto a música se transforma quando a bateria entra e a música se acelera, com o baterista (e autor da música) Roger Taylor assumindo os vocais. É a faixa mais pesada do disco mas - até pelo estilo de Taylor cantando - caberia perfeitamente num comercial dos cigarros Hollywood.

Mais pop chiclete em Don't Try Suicide, meio anos 50, meio bobinha mas, como estamos falando de Queen, com arranjo primoroso, inclusive dos vocais.

Brian May compôs e canta a belíssima Sail Away Sweet Sister, música que talvez tivesse tido mais sucesso na voz de Mercury. Mas eu gosto do vocal de May, sem tanto alcance mas passando toda emoção da letra.

Coming Soon, também do batera Taylor, se parece com coisas que a banda faria anos depois, como One Vision e Breakthru. Outra pop song divertida.

E, fechando o curto disco (menos de 40 minutos), Save Me, música irmã da primeira faixa: baladona bem construída, a bateria entrando só no primeiro refrão, com o vocal de Mercury passando todo o desespero amoroso da letra de Brian May. Fecha com chave de ouro o disco e é uma das músicas do Queen que eu mais gosto.

The Game foi o último grande álbum do Queen. A banda ainda faria ótimas músicas, mas em meio a discos irregulares ou até fracos. No lançamento original, o disco vinha numa capa metalizada, meio espelhada, bem bacana. Em CD, é claro, nada além de papel fosco.