quarta-feira, 19 de março de 2008

Ivan Lessa - É proibidíssimo fumar

Extraído do site da BBC Brasil:

Liverpool, como todos sabem, é aquela esplêndida cidade portuária que deu ao mundo as embarcações encarregadas de manter um império, além de cômodos navios que fizessem, com o mínimo de investimento, o tráfico de escravos.

Liverpool, além de uma equipe bisonha de futebol com seu nome, jogou sobre um mundo desprevenido os talentos dos quatro rapazes que formavam uma banda chamada de Beatles.

Devido a tudo isso e o fato bizarro de lhe caber o título de “capital européia da cultura para o ano de 2008”. Um mimo dado por comissões da União Européia, que, desde 1985, vem nomeando insólitas cidades com o cobiçado título.

Já foram capitais européias da cultura cidades como Helsinki, Pécs (calma, fica na Hungria) Istambul, Patras (essa é na Grécia) e Sibiu (na Romênia, é claro), para citar apenas algumas que mais culturalizaram de forma altiva, embora amena, a União Européia.

Infelizmente para Liverpool, este ano, o título é dividido com duas outras cidades da União, ambas situadas na Noruega: Stavener e Sandnes. Não sei os planos dos noruegueses, nem o que fizeram até agora, meados de março, mas, ao menos, não chatearam ninguém. Que é o mínimo que uma cidade cultural pode fazer na vida.

Para o ano, 2009, Vilnius, na Lituânia, será o centro das atenções culturais do EU. Promete.

Convictos de sua missão cultural, os liverpudlianos insignes que participam sejam lá qual for das comissões que decidem essas coisas, já tomaram a primeira decisão cultural de impacto: pensam em tacar uma proibição para menores de 18 anos em filmes de Walt Disney.

A cultura liverpudliana em marcha

Não estou brincando. O Conselho Liverpudliano, já preocupado com a imagem da cidade como também capital dos grandes pifões europeus, houve por bem passar por cima da Comitê Britânico da Classificação de Filmes (mas pode me chamar de censura), e castigar os clássicos de Walt Disney com a tal da proibição para menores de 18 anos, válida inclusive para DVDs, que, diga-se de passagem, nunca estiveram tão em moda.

Que alegam os iluminados de Liverpool? Que muitos dos desenhos animados mostram gente (às vezes até bichinhos adoráveis) fumando. Fumar, todos sabem, é uma questão de emulação. Emulação. Palavra aliás que, bastante semelhante em inglês liverpudliano, foi bastante pisoteada, tal qual bola de futebol ou bêbado chato, durante as conversações que precederam a inédita decisão.

Pois bem. Os menores de 18 anos, impressionáveis que são, vêem na tela do cinema ou da televisão uma pessoa ou animalzinho fumando e, assim que puderem, vão até a esquina, assaltam o primeiro cidadão (liverpudliano culto ou inculto) que passar para comprar um daqueles maços de cigarro que, além de custarem uma fortuna, têm estampados dizeres alarmantes, para os alfabetizados, evidentemente, que os há em grande quantidade em Liverpool.

Desanimadores desenhos animados

De desenho animado a ser agraciado com a futura proibição alguns clássicos: Peter Pan, Alice no País das Maravilhas e Pinóquio.

101 Dálmatas, com Cruella de Vil, mesmo “viloa”, e sua longa piteira?
De jeito nenhum. Os liverpudlianos estão meio por fora em matéria de Walt Disney.

Sou capaz de jurar que, em Dumbo, aqueles pássaros pretos que debocham do orelhudo e simpático mamífero proboscídeo fumam enquanto cantam aquela musiquinha sobre o fato de nunca terem visto um elefante voar.

Bambi? Aquele coelho não puxa um cigarrinho na hora das apresentações? Sou capaz de jurar.

Outro desenho animado (ou semi-animado) que vai ganhar carimbo proibitivo: Uma Cilada para Roger Rabbit. Com as sensualíssimas curvas de Jessica Rabbit, tudo bem. O cigarrinho das pessoas no clube de strip-tease? Em hipótese alguma.

9 em cada 10 astros e estrelas tragam

O slogan original, violentado aí em cima, era do sabonete Lever. Por ter sido fumante, fui e fiz a safarnagem com ele. Por que me irritou de sobejo saber que, no bolo proibitivo, foram-se Humphrey Bogart e, com toda certeza, Bette Davis, uma vez que nunca vi um casal na tela que fumasse tanto – e com tanta classe.

Meus primeiros cigarrinhos comprados na venda do português (avulsos, 4 por 200 réis) foram tudo culpa de Ânfora e Béti, conforme eu os pronunciava e chamava.

Só parei de fumar em 2001, quando, finalmente, me dei conta que Bogey (peguei intimidade com o tempo) morrera mesmo. Dona Bette Davis, via-se no pouco que aparecia, não ia lá muito bem. Mas sempre teremos Casablanca, parafraseando um dos inúmeros diálogos célebres do filme com esse título, por sinal também na lista negra liverpudliana.

Reparação, que outro dia mesmo estava concorrendo a Oscar que não acaba mais, e que acabou levando um por, acho, “melhor homenzinho sem graça barbeado”, também vai pegar uma boa proibição pela proa. Idem os chatos todos dos Piratas do Caribe, embora ache pouco provável que os corsários da série fumem. Os liverpudlianos devem ter confundido com espada enterrada no peito de um moreno. A vida é dura em Liverpool. Duros são seus habitantes.

Conclusão

E o Harry Potter? Nada pra ele? Esse negócio de jovem estudando para ser mágico (ou “mágico”), boa coisa não me parece.

Um comentário:

Anônimo disse...
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