quarta-feira, 12 de março de 2008

El País, hoje.

vejam o que o jornal de esquerda El País diz sobre Correa.

Dados de computador apreendido das Farc sugerem a colaboração de Rafael Correa
Maite Rico Enviada especial a Bogotá

O Equador se transformou no santuário das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Depoimentos de ex-combatentes e o conteúdo dos computadores da guerrilha apreendidos na operação militar que acabou com a vida de seu número 2, Raúl Reyes, revelam detalhes inéditos sobre a colaboração do governo equatoriano com as Farc. Graças às redes de corrupção envolvidas com autoridades locais e militares, o grupo armado estabeleceu pelo menos oito acampamentos estáveis, de onde realiza tráfico de armas, transporte de drogas, trânsito de seqüestrados e doutrinamento das populações."Toda a zona de fronteira é segura no lado equatoriano", conta Miguel, um membro da segurança de Raúl Reyes que abandonou recentemente a luta armada e vive na clandestinidade perto de Bogotá. "Fazemos nossos acampamentos em sítios e nos abastecemos nas comunidades. Altos comandos militares nos apóiam com a logística, armamentos, barracas e uniformes. Na Frente 48 usamos uniformes equatorianos porque é mais fácil do que esperar que o Secretariado os mande da Colômbia".Os guerrilheiros se movimentam pelo norte do Equador em caminhonetes Toyota, como constatou um funcionário da Organização de Estados Americanos (OEA), que expressou em particular a surpresa que lhe causou encontrar em um refeitório na área de fronteira membros das Farc perfeitamente equipados.

Nesse território liberado, a guerrilha estabeleceu corredores para o transporte de cocaína, principal fonte de financiamento. "De Putumayo chegam as caminhonetes carregadas com pasta-base, que os agricultores preparam, e pelas estradas equatorianas seguem para oeste e entram de novo na Colômbia por Nariño, onde estão os laboratórios. Depois a droga volta a sair pelo Equador até a costa", explica Miguel, que conhece muito bem o terreno por ter sido um comando médio da Frente 48 durante mais de dez anos, e que agora entrou, como milhares de seus companheiros, em um programa de reinserção. Graças às "mensalidades" que recebem das Farc, as autoridades locais fazem vista grossa. "Os chefes de polícia avisam os fiscais para que nos deixem passar. Em El Carmelo, no cruzamento da fronteira, há uma base do exército equatoriano que controla a estrada. Também está comprada"."Detectamos 11 acampamentos em solo equatoriano", diz uma fonte da inteligência colombiana. "Oito grandes, com oficinas, arsenais, pistas de treinamento na área do rio San Miguel, e três menores perto do rio Putumayo". As oito bases permanentes (Rancherías, San José, El Arenal, La Isla, onde Raúl Reyes viveu dois anos, El Limón, La Escalera, Farfán e Puerto Mestanza) acompanham a fronteira norte do Equador de leste a oeste.Dessa retaguarda a Colômbia sofreu 39 ataques das Farc nos últimos quatro anos. Um deles causou a morte de 22 soldados na localidade de Teteyé. "Entregamos 16 relatórios à Comissão Binacional para Assuntos Fronteiriços, e mais oito à chancelaria equatoriana, sobre a presença das Farc em seu solo", diz um alto funcionário colombiano. "Eles negam ou simplesmente não respondem".Bogotá diz entender agora essa atitude. Essa mina que é o computador de Reyes revelou as relações políticas mantidas pelas Farc com o governo de Quito no mais alto nível. O número 2 da guerrilha fala sobre duas reuniões, em 18 de janeiro e 28 de fevereiro deste ano (véspera de sua morte), com emissários do presidente Rafael Correa. Um deles é seu ministro da Segurança, Gustavo Larrea. O presidente equatoriano propõe se reunir com os comandos da guerrilha em Quito, estabelecer "coordenações sobre a fronteira binacional", minimizar os efeitos do Plano Colômbia contra o narcotráfico com denúncias das fumigações, "trocar os comandos da força pública" hostis à guerrilha. Trata-se de neutralizar o presidente colombiano, Álvaro Uribe, representante "da Casa Branca, das multinacionais e das oligarquias".A indignação de Correa pelo ataque colombiano à base de Reyes se transformou em virulência quando essas duas mensagens eletrônicas foram reveladas na última terça-feira. Chamou Uribe de "mentiroso e insolente" e disse que associá-lo às Farc era "uma desfaçatez". Depois justificou a presença da guerrilha com o empenho de seu governo para conseguir a libertação dos seqüestrados.O problema, disse Correa, é que a Colômbia não cuida de suas fronteiras. "É muito cinismo", respondem em Bogotá. "O governo do Equador se nega a estabelecer mecanismos de cooperação. Com o Peru temos patrulhas conjuntas nos rios e ali não há problemas de acampamentos. Com o Equador quisemos fazer o mesmo e foi impossível". Para compensar, o ministro da Segurança Larrea, que tão boas relações fez com Raúl Reyes, acaba de propor a mobilização de capacetes-azuis da ONU entre os dois países.

Número um das Farc teria ajudado a campanha eleitoral de Correa

Dois documentos encontrados no computador de Raúl Reyes, o número 2 das Farc, sugerem que a guerrilha apoiou economicamente a campanha presidencial de Rafael Correa em 2006. "Em nota enviada ao Secretariado, explico sobre a ajuda dada à campanha de Rafael Correa, de acordo com sua instrução", diz Reyes ao chefe da guerrilha, Pedro Antonio Marín, o Tirofijo. "O coronel anunciou que voltará a me visitar na semana que vem com a finalidade de explicar a estratégia para o segundo turno."Os intercâmbios não terminam aí. Em outra mensagem eletrônica a que EL PAÍS teve acesso, datada de 12 de outubro de 2006, três dias antes do primeiro turno eleitoral, o setuagenário Tirofijo anuncia a Reyes que "o Secretariado está de acordo em proporcionar ajuda aos amigos do Equador". Ao todo US$ 100 mil. "Pode informar imediatamente aos amigos, antes que seja tarde, a quantia da ajuda".

Miguel, que foi membro da segurança de Reyes e hoje está em um programa de reinserção, confirma que a equipe de Correa buscou o apoio da guerrilha para sua campanha. Os primeiros contatos foram estabelecidos através de uma célula de presos das Farc na prisão de Quito. Os enviados de Correa (um major do exército, um agente de alfândega e um de seus mais estreitos colaboradores na campanha) "nos informaram que se apoiássemos a campanha de Rafael econômica e moralmente, se Correa chegasse à presidência, poderia haver alguns benefícios para as Farc, como por exemplo um diálogo sobre a segurança fronteiriça".Até aquela prisão também peregrinou o ex-presidente Lucio Gutiérrez. "Pediu nosso apoio para seu partido, a Sociedade Patriótica, nas legislativas. Como Correa, queria uma reunião com os dirigentes", lembra Miguel. Mas Gutiérrez tinha um problema em sua ficha: "As Farc estavam decepcionadas pela detenção de Simón Trinidad, um de nossos chefes, em Quito em 2005. Lucio disse que não teve responsabilidade. Mas não o ajudamos".

Correa ganhou as eleições no segundo turno, em 26 de novembro de 2006. A partir daí, segundo Miguel, as Farc designaram um novo interlocutor para levar adiante os contatos. Era um traficante de armas equatoriano chamado Patricio González, fornecedor da guerrilha durante 25 anos e homem de confiança de Tirofijo. González recebeu dois convites para assistir em nome das Farc à posse de Rafael Correa, em 15 de janeiro de 2007.

3 comentários:

Filipe disse...

"Dois documentos encontrados no computador de Raúl Reyes, o número 2 das Farc, sugerem que a guerrilha apoiou economicamente a campanha presidencial de Rafael Correa em 2006"

Eu também quero um notebook blindado desses, que aguenta até bomba lançada de avião.

feluc disse...

tá bom, Filipe, eu te respeito.

Vc acredita que o Chavez e o Correa não ajudam as FARC...
tudo bem.

Eu só tenho pena de um país que tem uma diplomacia tão ingênua a ponto de acreditar nisto.

Filipe disse...

Não é isso, meu amigo. Eu só quero que você não se esqueça quem está do outro lado dessa afirmação.

Uribe tem enorme interesse em manter a Colômbia em estado de alerta, em clima de guerra. É como ele mantém sua popularidade em alta, é a carta na manga para mudar a constituição e conseguir um terceiro mandato.

Seria ingênuo acreditar que um duo como Bush+Uribe agem unicamente pelo interesse em resolver pacificamente a questão. Como, aliás, foi feito em relação as AUC, paramilitares de extrema-direita, que ao menos no papel estão desmobilizadas.

Abraços!