segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Leitura de Final de Semana (ou Como Eu Parei de Me Preocupar e Virei Intelectual no Brasil)

"O homem razoável adapta-se ao mundo.

O homem não-razoável insiste em tentar adaptar o mundo a si mesmo.

Logo....

Todo o progresso depende do homem não razoável."
                                                                             Bernard Shaw



Amigos eu selecionei a peça “Arms and The Man”, de Bernard Shaw para apresentá-la a vocês.

Por quê essa e não “Saint Joan”, a melhor peça de Shaw? Aí vem o outro aspecto legal desta peça. Como ela já caiu no domínio público, ela pode ser baixada gratuitamente de vários sítios da internéti. A versão que eu li eu baixei do Projeto Gutenberg.

Uma dica: ler em arquivo txt é muito chato: eu uso o mobipocket reader porque ele permite formatar o texto para ser lido em um número bem variado de fontes. Além disso ele tem autorolagem para os leitores mais preguiçosos.

Além disso hoje em dia muitos celulares podem abrir textos txt  de modo que agora vocês tem algo para fazer na fila do supermercado ou do posto de gasolina.  Eu mesmo li a peça na tela do meu Mp4 Player (juro).

Sobre a peça em si mesma vou contar só o início, para dar uma idéia do tema, ou senão tiraria a graça de lê-la.

A peça começa com Raina em estado radiante pois acabaram de chegar notícias de que seu noivo, Sergius, comandou heroicamente uma carga da cavalaria búlgara sobre as posições dos inimigos sérvios. 

Essa versão gloriosa dos fatos vai sofrer uma reviravolta na mesma noite, através de um desconhecido que surgirá no meio do tumulto da fuga dos sérvios em meio à cidade. A partir daí a primeira imagem que tínhamos de praticamente todos os personagens será contestada, e cada um deles como que desenvolverá uma dupla personalidade até o desfecho da peça.

Sarah Hankins no papel de Louka

Por fim, para quem achar o final do livro “convencional” no que não vai estar de todo errado, é preciso ter em mente que o livro foi escrito em pleno período vitoriano, e a ousadia tinha limites., mesmo para uma  cabeça pouco convencional como a de Shaw que, afinal de contas, queria terminar a vida tendo-a ligada ao resto do corpo.

                             Coisas que aprendi com este livro

Coldres e cartucheiras militares foram projetadas especificamente para carregar bombons ao invés de munição.

Jamais, em nenhuma hipótese, permita que um búlgaro lidere um ataque de cavalaria.

Um oficial russo é incapaz de detectar a presença de um inimigo nas proximidades mesmo que ele mije no seu pé.

Na Suíça as crianças são criadas a pão e água, independentemente da origem social das mesmas.

Na Bulgária só há uma única biblioteca, e ela é composta principalmente por coleções da revista “Contigo” encadernadas.



Por fim, para quem ler o livro aqui vai uma pequena charada: qual é a falha de raciocínio na acusação que Bluntschli faz a Sergius?

Cenário de uma encenação de "Arms and the Man" realizada em 2006


Ah sim, e sobre a “intelectualidade”, eu primeiro quero lembrar os leitores de um dos apotegmas mais antigos aqui do nosso blógui:


No Brasil


Quem leu mais de três livros é um intelectual (Feluc)
Quem leu mais de dez livros é um gênio (Fetter)
Quem leu mais de cinquenta livros é um louco (Filipe)
Quem leu mais de cem livros é uma lenda (Felix)


Ou seja, depois de ter lido “O Pequeno Príncipe”, “Polyanna Menina” e “Polyanna Moça”, finalmente cheguei ao meu quarto livro e assim preenchi os requisitos do critério “Feluc” para fazer parte da intelectualidade brasileira.

Felix chegou lá amigos, e vocês também podem! Leiam este opúsculo e entrem vocês também para o seleto clube dos intelectuais brasileiros!


2 comentários:

feluc disse...

Prezado Felix,

devo confessar que o único livro de Shaw que li foi "Socialismo para Milionários".
Adorei o livro, que li em português. Tenho dúvida se conseguiria captar toda a ironia do autor no texto original.

Felix Cattus disse...

Caro Feluc, o livro que vc leu não teria sido uma tradução algo livre do "Guia da Mulher Inteligente Para o Capitalismo e o Socialismo"?
Este que vc citou eu juro que nunca tinha ouvido falar.