Pela primeira vez em um bom tempo eu tenho que concordar com o companheiro Filipe. O vídeo tenta mostrar um grave problema de saúde. Só que a maneira com que ele o faz está tão viciada de problemas que acredito que ele contribui mais para ocultar as verdadeiras razões do que para conscientizar as pessoas do problema. Em geral as pessoas irão assisti-lo sem atentar para a sua mensagem subliminar, no que o uso eficiente de imagens certamente ajuda.
Como o vídeo é francês, proponho, na melhor tradição Deleuze/Baudrillard “desconstruir” o sentido do vídeo, e o mostrar o que ele quer ocultar.
Vamos ficar só nos fatos básicos. Tendo origem no continente africano, a Aids espalhou-se para todo o mundo e foi praticamente causa de um pânico internacional no seu início, ter um diagnóstico era equivalente a ter uma sentença de morte.
Com o tempo, e como ocorreu já outras vezes, as populações aprenderam a conviver com o problema. A ciência fez grandes avanços e, se a cura não foi alcançada, pelo menos conseguiu-se um meio de fazer com que os doentes vivessem praticamente indefinidamente, sendo hoje comum o caso de doentes de Aids morrerem de outra causa que não tem nada a ver com a doença. A epidemia não foi extinta, mas permanece, nos países mais ricos sob controle, e nos países escandinavos tem uma incidência baixíssima comparada com a média mundial, apesar da conhecida liberalidade dos escandinavos em relação ao sexo, mostrando que é o esclarecimento e hábitos de higiene que evitam a doença, e não o fato de ser ou não chegado a um bacanal.
Onde hoje a Aids continua sendo um problema é nos países pobres e, principalmente, em vários países africanos, onde chega a ter um efeito econômico visível por ter aumentado a mortalidade dos trabalhadores a um ponto em que o funcionamento normal da economia foi afetado.
Se hoje um filme mostrasse africanos como principais vítimas da doença poderíamos até achar que não fosse muito simpático com os africanos. Muitos não tem nem mesmo idéia de que seus hábitos estejam eventualmente propagando a doença. Mas com certeza o vídeo não poderia ser acusado de faltar com a realidade.
Nada disso aparece no vídeo francês. Ao invés vemos uma massa compacta de suruba branca, e ocasionalmente, aqui e ali, um casal praticando o lesbianismo, prática que eu achava ser pouco eficiente para a propagação da doença. Sobre os aspectos, por assim dizer “geopolíticos” do problema nem um pio. Não lembro de ter visto nenhum afrodescendente no filme, e não pretendo repetir a dose para confirmar.
Agora imaginem se o vídeo mostrasse um bacanal de negr, oooops, de afrodescendentes. Há! No mínimo o autor do vídeo seria tachado de racista, de ser condescendente com relação à população de países do terceiro mundo e de tentar passar uma mensagem moralizante ao invés de discutir as reais razões do problema. O vídeo seria rotulado de antiprogressista.
Mas será que falta tanto dinheiro assim para os africanos lidarem com a doença?
Desde a Segunda Guerra os Estados Unidos e países europeus já doaram entre 500 bilhões e 1 trilhão de dólares para os países africanos, dependendo do quão conservadora é a estimativa.
A maior parte desse dinheiro não foi parar, evidentemente, na mão do africano pobre, e sim foi desviado pela elite dirigente africana. Se no Brasil, com Tribunal de Contas disso, Ministério Público daquilo, já ocorre a corrupção no grau que vemos diariamente nos meios de comunicação imaginem na África, onde muitos países não dispõe de qualquer controle sobre o dinheiro público e tudo fica a depender do alvedrio de chefetes locais?
A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DE WABENZI
A coisa chegou a um ponto que os africanos que falam Swahili criaram um termo especial para designar o africano de elite. Esqueçam “Bwana” isso é recordação do passado colonial. O termo da hora é “Wabenzi” literalmente querendo dizer “homem do Mercedes Benz” mas usado em sentido genérico para denominar a corrupta elite dirigente africana, que viaja à Europa e volta com um Mercedes na bagagem.
Proponho um roteiro de um vídeo não tão high-tech, mas com certeza mais significativo:
Um pequeno vilarejo africano. Um carro está se aproximando dele por uma estrada empoeirada. É um Mercedes SLR conversível. Ao volante vai Wabenzi, com óculos escuros espelhados e um terno cafona combinando com os óculos. Ao passar pelo vilarejo, o motorista nem mesmo se preocupa em diminuir a velocidade. As pessoas que tratem de pular para o lado para evitarem serem atropeladas. Wabenzi olha pelo retrovisor do carro e sorri satisfeito com o susto que provocou nos transeuntes.
Após a passagem do carro a câmera faz um zoom para um pequeno e pobre casebre do vilarejo. Dentro podemos ver um homem deitado sobre uma cama. É visível que ele não está bem de saúde, seu corpo está emaciado e seu rosto deixa transparecer o seu sofrimento. Sem nenhum cuidado médico ostensivo, pode-se ver que ele está entregue à própria sorte.
Na parte de baixo do vídeo aparece um letreiro: “Você tem idéia de onde foi parar o dinheiro que você e seu governo doaram para o tratamento dos africanos doentes?”
Pensem a respeito do assunto...
Menção honrosa para Nelsinho e Feluc por levantarem a questão.
E antes que eu esqueça, filmezinho escamoteador, moralista e racista miserável.
Na verdade em Swahili mBenzi é singular e waBenzi plural, então deve-se ler "a irresistível ascensão dos wabenzi", dentre outros detalhes. Swahili nunca foi meu forte.
complementando: o vídeo associa sexo com morte. E, pior, associa comportamento promíscuo com morte. Não há referência alguma ao uso de camisinha como forma de evitar o contágio. Ao invés da macabra parte de baixo da ampulheta, o vídeo poderia mostrar algo como "ninguém é de ninguém mas todo mundo de camisinha". Em francês a frase ficaria até charmosa.
Sobre o lesbianismo no vídeo, muito bem citado pelo companheiro Felix: até onde eu sei, não há casos confirmados de contágio mulher-mulher do HIV.
7 comentários:
very cool.
Achei o vídeo muito bem feito mas meio moralista.
Pela primeira vez em um bom tempo eu tenho que concordar com o companheiro Filipe. O vídeo tenta mostrar um grave problema de saúde. Só que a maneira com que ele o faz está tão viciada de problemas que acredito que ele contribui mais para ocultar as verdadeiras razões do que para conscientizar as pessoas do problema. Em geral as pessoas irão assisti-lo sem atentar para a sua mensagem subliminar, no que o uso eficiente de imagens certamente ajuda.
Como o vídeo é francês, proponho, na melhor tradição Deleuze/Baudrillard “desconstruir” o sentido do vídeo, e o mostrar o que ele quer ocultar.
Vamos ficar só nos fatos básicos. Tendo origem no continente africano, a Aids espalhou-se para todo o mundo e foi praticamente causa de um pânico internacional no seu início, ter um diagnóstico era equivalente a ter uma sentença de morte.
Com o tempo, e como ocorreu já outras vezes, as populações aprenderam a conviver com o problema. A ciência fez grandes avanços e, se a cura não foi alcançada, pelo menos conseguiu-se um meio de fazer com que os doentes vivessem praticamente indefinidamente, sendo hoje comum o caso de doentes de Aids morrerem de outra causa que não tem nada a ver com a doença. A epidemia não foi extinta, mas permanece, nos países mais ricos sob controle, e nos países escandinavos tem uma incidência baixíssima comparada com a média mundial, apesar da conhecida liberalidade dos escandinavos em relação ao sexo, mostrando que é o esclarecimento e hábitos de higiene que evitam a doença, e não o fato de ser ou não chegado a um bacanal.
Onde hoje a Aids continua sendo um problema é nos países pobres e, principalmente, em vários países africanos, onde chega a ter um efeito econômico visível por ter aumentado a mortalidade dos trabalhadores a um ponto em que o funcionamento normal da economia foi afetado.
Se hoje um filme mostrasse africanos como principais vítimas da doença poderíamos até achar que não fosse muito simpático com os africanos. Muitos não tem nem mesmo idéia de que seus hábitos estejam eventualmente propagando a doença. Mas com certeza o vídeo não poderia ser acusado de faltar com a realidade.
Nada disso aparece no vídeo francês. Ao invés vemos uma massa compacta de suruba branca, e ocasionalmente, aqui e ali, um casal praticando o lesbianismo, prática que eu achava ser pouco eficiente para a propagação da doença. Sobre os aspectos, por assim dizer “geopolíticos” do problema nem um pio. Não lembro de ter visto nenhum afrodescendente no filme, e não pretendo repetir a dose para confirmar.
Agora imaginem se o vídeo mostrasse um bacanal de negr, oooops, de afrodescendentes. Há! No mínimo o autor do vídeo seria tachado de racista, de ser condescendente com relação à população de países do terceiro mundo e de tentar passar uma mensagem moralizante ao invés de discutir as reais razões do problema. O vídeo seria rotulado de antiprogressista.
Mas será que falta tanto dinheiro assim para os africanos lidarem com a doença?
Desde a Segunda Guerra os Estados Unidos e países europeus já doaram entre 500 bilhões e 1 trilhão de dólares para os países africanos, dependendo do quão conservadora é a estimativa.
A maior parte desse dinheiro não foi parar, evidentemente, na mão do africano pobre, e sim foi desviado pela elite dirigente africana. Se no Brasil, com Tribunal de Contas disso, Ministério Público daquilo, já ocorre a corrupção no grau que vemos diariamente nos meios de comunicação imaginem na África, onde muitos países não dispõe de qualquer controle sobre o dinheiro público e tudo fica a depender do alvedrio de chefetes locais?
A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DE WABENZI
A coisa chegou a um ponto que os africanos que falam Swahili criaram um termo especial para designar o africano de elite.
Esqueçam “Bwana” isso é recordação do passado colonial. O termo da hora é “Wabenzi” literalmente querendo dizer “homem do Mercedes Benz” mas usado em sentido genérico para denominar a corrupta elite dirigente africana, que viaja à Europa e volta com um Mercedes na bagagem.
http://www.urbandictionary.com/define.php?term=wabenzi
http://www.alphadictionary.com/blog/?cat=8
Proponho um roteiro de um vídeo não tão high-tech, mas com certeza mais significativo:
Um pequeno vilarejo africano. Um carro está se aproximando dele por uma estrada empoeirada. É um Mercedes SLR conversível. Ao volante vai Wabenzi, com óculos escuros espelhados e um terno cafona combinando com os óculos. Ao passar pelo vilarejo, o motorista nem mesmo se preocupa em diminuir a velocidade. As pessoas que tratem de pular para o lado para evitarem serem atropeladas. Wabenzi olha pelo retrovisor do carro e sorri satisfeito com o susto que provocou nos transeuntes.
Após a passagem do carro a câmera faz um zoom para um pequeno e pobre casebre do vilarejo. Dentro podemos ver um homem deitado sobre uma cama. É visível que ele não está bem de saúde, seu corpo está emaciado e seu rosto deixa transparecer o seu sofrimento. Sem nenhum cuidado médico ostensivo, pode-se ver que ele está entregue à própria sorte.
Na parte de baixo do vídeo aparece um letreiro: “Você tem idéia de onde foi parar o dinheiro que você e seu governo doaram para o tratamento dos africanos doentes?”
Pensem a respeito do assunto...
Menção honrosa para Nelsinho e Feluc por levantarem a questão.
E antes que eu esqueça, filmezinho escamoteador, moralista e racista miserável.
Felix errou
Na verdade em Swahili mBenzi é singular e waBenzi plural, então deve-se ler "a irresistível ascensão dos wabenzi", dentre outros detalhes. Swahili nunca foi meu forte.
complementando: o vídeo associa sexo com morte. E, pior, associa comportamento promíscuo com morte.
Não há referência alguma ao uso de camisinha como forma de evitar o contágio. Ao invés da macabra parte de baixo da ampulheta, o vídeo poderia mostrar algo como "ninguém é de ninguém mas todo mundo de camisinha". Em francês a frase ficaria até charmosa.
Sobre o lesbianismo no vídeo, muito bem citado pelo companheiro Felix: até onde eu sei, não há casos confirmados de contágio mulher-mulher do HIV.
Personne n'est de personne, mais tout le monde avec préservatif.
Tá certo aí ?
"personne n'est à personne...".
D'accord?
Le Chat Heureux
Postar um comentário