terça-feira, 3 de junho de 2008

Sobre o artigo da Carta Capital

Não creio que os profissionais da Carta Capital sejam piores do que a média da imprensa brasileira que, convenhamos, é de uma aridez intelectual intolerável.
Também não acredito que editores de publicações "de direita", como O Globo e o Estadão, sejam menos movidos pela ideologia do que os da Carta.
No geral, portanto, as condições que regem a produção jornalística da Carta não são muito diferentes do resto.
Todavia, o resultado é tão ruim, que somos levados a crer que há um bando de mal-intencionados escrevendo artigos como este.
Trata-se de uma mistura de determinismo histórico barato com analfabetismo grave.
O artigo começa noticiando um fato: a reunião entre Hugo Chavez e um grupo de intelectuais em Brasília, na quinta-feira 22.
Ah, ele fez uma análise expressiva do processo político em marcha na América Latina.
Desenvolve o tema com uma anedota: o bilhete.
Até aí, nada demais.
Da anedota para a sociologia: como a esquerda tem se alastrado na América Latina como um processo histórico inexorável.
Conclui: "Não há exorcismo político capaz de dar jeito nisso. Há uma unidade nessa proliferação de “diabos” neste momento. (...) As circunstâncias sociais dramáticas do continente são o fermento do caldeirão do diabo. (...) Ressurgirá sempre, mais à frente, encarnado em homens e mulheres que reagirão, talvez de forma mais agressiva, ao precário contrato social edificado sobre a miséria de milhões de pessoas.
Gente, isto não é jornalismo.
É panfleto.
Já li bons panfletos.
Não é o caso.
Eu só quero reforçar a idéia de que o proselitismo político não é crime. Mas que seja feito para alfabetizados.
E que não se passe por jornalismo.

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