O segredo do sucesso do futebol da Alemanha
Novamente, a seleção alemã avançou até as fases finais de um grande torneio internacional. Mas o que torna a seleção tão bem-sucedida? Pode ser por ser tão mediana
Zeev Avrahami
Durante grande parte do jogo entre Alemanha e Portugal na última quinta-feira (19), parecia quase injusto. Portugal podia ser amplamente considerada favorita, mas a disputa em campo parecia mais uma luta de boxe entre um peso pesado e um peso médio. Portugal tinha o brilho, os truques e o trabalho de pernas elegante. Mas no final, foi a Alemanha que provou estar disposta a fazer o que era necessário para vencer -mesmo que isto envolvesse o astro meio-campista Michael Ballack empurrar o zagueiro português para fora do caminho para marcar o gol da vitória no segundo tempo.
Com ele, Portugal foi eliminada, a seleção que talvez contava com o maior astro do torneio. Cristiano Ronaldo marcou mais gols do que qualquer outro jogador neste ano no campeonato inglês. Ele foi eleito jogador do ano da primeira divisão inglesa por dois anos consecutivos. Outros astros como Deco e Petit, Nani e João Moutinho estavam jogando ao lado dele na seleção portuguesa.
Klose, da seleção alemã, comemora gol durante partida contra a Turquia pela Eurocopa
E os alemães? A equipe conta com um astro no meio-campo, Ballack, que de alguma forma consegue controlar os jogos apesar dos locutores e narradores passarem grande parte do tempo sem dizer seu nome. Mas seu elenco de apoio é bastante anônimo, composto de jogadores com nomes como Hitzlsperger, Rolfes e Mertesacker. Mas mesmo assim, é exatamente esta devoção ao mediano que torna a seleção alemã bem-sucedida ano após ano, torneio após torneio.
O lado alemão, resumindo, dificilmente fará você saltar de sua cadeira -mas apenas raramente decepcionará. Seus períodos de sucesso são breves, assim como as calmarias entre eles. Na última Eurocopa em 2004, a seleção não conseguiu passar de seu grupo. Mas na Copa do Mundo de 2002, a seleção ficou em segundo lugar e, em 2006, terminou em um impressionante terceiro.
Por quê? Por que uma seleção como a Inglaterra, que ano após ano está repleta de jogadores reconhecidos por toda a Europa, quando não por todo o mundo, não chega nem perto do índice de sucesso da Alemanha em torneios internacionais? Por que a Espanha não conquista uma Eurocopa desde 1964 -apesar de contar com um dos campeonatos domésticos mais fortes do continente- enquanto a Alemanha, com sua Bundesliga em decadência, conquistou três desde 1972?
Um fator é certamente a força consistente das equipes no meio. Seleções nacionais alemãs bem-sucedidas sempre terão um goleiro intimidante, um zagueiro dominante no miolo da zaga, um líder no coração do meio-campo e um atacante robusto. Seleções alemãs decepcionantes sempre careceram de um dos elos nesta cadeia.
Mas igualmente importante é a estabilidade da equipe. Na primeira partida da Alemanha na Eurocopa 2008, contra a Polônia, ela colocou em campo oito jogadores que jogaram na Copa do Mundo há dois anos. Os três jogadores que ingressaram também faziam parte do esquadrão de 2006 -e o técnico, Joachim Löw, também estava lá, mas como assistente. Esta estabilidade há muito faz parte do lado alemão. A seleção nunca teve uma era dourada de domínio completo, mas -mesmo nos anos de Franz Beckenbauer- nunca dependeu de apenas um jogador para o sucesso. Retire os anos de Zinedine Zidane e o sucesso internacional da França mergulha a profundidades inglesas.
Mas os alemães valorizam o coletivo em vez da individualidade. A equipe, mesmo com seu recente foco na forma física estimulado pelo antecessor de Löw, Jürgen Klinsmann, não é um Porsche. Mas também está longe de ser um Trabant. Ela parece mais um Audi sólido, intermediário. Felizmente para a Alemanha, tanto nos carros quanto no futebol, seu mediano é melhor do que o restante.
Mas há mais no sucesso da Alemanha do que apenas continuidade e confiabilidade consistente. A equipe é uma grande beneficiária da globalização do futebol. Não porque os clubes alemães têm importado jogadores talentosos de todas as partes do mundo para elevar o nível do jogo. Em vez disso, é porque não o fizeram.
Na Inglaterra, Espanha e Itália, os garotos locais freqüentemente são minoria nos elencos dos melhores clubes. As equipes do Real Madrid dos últimos anos não eram chamadas de Los Galácticos à toa. E o dinheiro envolvido é imenso. De fato, em uma era de salários indo às alturas e clubes repletos de astros estrangeiros, os clubes repentinamente são mais importantes do que as seleções nacionais e onde se encontra o principal compromisso dos jogadores.
Além disso, quando os times locais estão repletos de talento estrangeiro, um importante efeito colateral é uma seleção nacional mais fraca. Até mesmo o presidente da Premier League inglesa, sir David Richards, atribuiu o fracasso da Inglaterra em se classificar à relativa escassez de talento local. A Itália também, apesar de ter conquistado a Copa do Mundo de 2006, fracassou em ir mais longe desta vez. Os clubes em ambos os países tendem a contar com o talento dos jogadores estrangeiros -um luxo com que não podem contar quando se trata de competições internacionais.
A Alemanha não tem este problema. A Bundesliga não pode competir financeiramente com a espanhola, italiana e inglesa. Em vez disso, a liga alemã permite que o talento local se desenvolva, amadureça, lidere e assuma a responsabilidade. E ao fazê-lo, cria jogadores que se importam fortemente com o orgulho nacional e seu uniforme. Apenas o Bayern de Munique importa consistentemente astros para as posições onde o talento local não é bom o bastante.
Também funciona da outra forma: apenas três jogadores alemães jogam em campeonatos estrangeiros -uma situação que resulta em familiaridade e, na seleção nacional, uma sensação de unidade. Não é um bando de mercenários do futebol que se encontram de vez em quando e supostamente devem formar um laço e conquistar um torneio em um prazo de um mês. A Alemanha, resumindo, pode não ser a seleção nacional mais impressionante, mas está muito próxima de ser um verdadeiro clube de futebol.
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