segunda-feira, 24 de setembro de 2007

A dupla polêmica de "Tropa de Elite"


Li no último sábado, no Estadão, uma matéria sobre o lançamento do filme Tropa de Elite no festival de cinema do Rio. O filme, que também é capa da revista Época desta semana, tem atraído tanta atenção que o livro no qual se baseia tem sido um dos mais vendidos na Bienal carioca, que terminou ontem (o livro, aliás, se chama Elite da Tropa).

Segundo a matéria do Estado conta, a intenção do diretor era criticar o excesso de violência policial, principalmente do BOPE, retratado no filme. Mas, pela reação do público presente no lançamento, o tiro - sem trocadilho - saiu pela culatra, pois as cenas de repressão a criminosos (ou seja, bandido tomando porrada ou pipoco) eram aplaudidas pelos espectadores. Além disso, o personagem principal atraiu a simpatia e a torcida do público. Talvez o fato desse personagem ser encenado pelo mesmo ator que é o vilão da novela "das oito" do Globo ajude. Talvez seja culpa do próprio filme, que justifique as ações do BOPE (não sei, porque não o vi, é só chute).

E, talvez, o erro do diretor passe por acreditar que um assunto tão dúbio como repressão policial pudesse atrair muitos que compartilhariam de sua visão, quando a sociedade, há tempos, está soterrada em doses cavalares de insensibilidade, após incontáveis barbáries estampadas em jornais. A percepção do que seria certo e errado mudou.

Mas não é só pelo tema que Tropa de Elite ficou famoso antes mesmo de sua estréia. O filme foi a primeira "vítima" nacional da dita pirataria, em larga escala, anterior ao seu lançamento oficial. Uma cópia escapuliu dos produtores e se espalhou como Ebola pelo país, podendo ser encontrado facilmente no seu fornecedor alternativo preferido, seja em barraquinhas de feira ou indo até você em uma mesa de bar na calçada.

Porém, deplorável a postura da senhora Ilda Santiago, diretora-executiva de programação do Festival de Cinema, que disse - segundo o Estadão - que assistir filme pirata é ser conivente com o crime. Essa idéia de querer juntar "usuário" e "traficante" dentro do mesmo barril vazio de rum já foi tentada em campanhas contra drogas, de sucesso no mínimo questionável.

Falta visão e/ou vontade de entender e minimizar o problema da pirataria. Mesmo quando se está discutindo comprar cópias irregulares de um produto - ou seja, um CD ou DVD de bucaneiro - é preciso analisar o que leva um cidadão correto a praticar um ato sabidamente ilegal, um sujeito que talvez nem multa de trânsito tenha mas não pense duas vezes antes de pagar pela cópia irregular.

Nem vou falar de quando o produto é uma cópia digital de um disco ou de um filme, gratuitamente circulando pela internet, senão este post ocuparia a tela toda. Mas, de novo, acho que passa pela percepção de certo e errado.

Um comentário:

Cristian Fetter Mold disse...

O engraçado é que segundo alguns indicadores, desde o início do Plano Real o ingresso em Brasília chegou a aumentar mais de 500% em algumas salas.

Ir ao cinema do Park Shopping, em 1995, custava R$ 2,50 de segunda a quinta, e R$ 4,00 aos sábados, domingos e feriados.

Hoje os preços são, respectivamente, R$ 14,40 e R$ 17,50.

E fora a pipoquinha...