terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Evaldo Cabral de Mello, 72 anos, o maior historiador brasileiro vivo, em entrevista ao "Jornal do Commercio", de Recife.

"Quando alguém fica entusiasmado com a vinda de dom João, está sempre achando que a unidade territorial do Brasil é um valor supremo. E que por isso deve subordinar outros valores, como liberdades públicas, desenvolvimento econômico. Talvez fosse melhor que o Brasil fosse menor e tivesse acabado a escravidão mais cedo e realizado reformas que até hoje adia. "

" O que o brasileiro ainda não percebeu é que, ao longo da sua história, a aspiração de grandeza territorial e de unidade nacional serviu de pretexto para se evitarem coisas perigosas para a posição dos grupos que estavam no poder. De Pedro I, o primeiro golpista, até o Estado Novo e o golpe de 1964, não houve ato de força que não invocasse a unidade nacional, cujo preço foi talvez demasiado caro para o que tivemos em troca. "

2 comentários:

Filipe disse...

Sem dúvida a unidade e a grandeza do território deveriam ser alavancas para desenvolvimento econômico, fulcrado em liberdades públicas.

Mas, com todo respeito ao Cabral de Mello, discordo da idéia que é possível imaginar um Brasil menor e melhor, em oposição ao Brasil "grande e ruim" de hoje.

Sem a vinda da Corte, a América Portuguesa se desfragmentaria em uma séria de republiquetas, algumas mais outras menos desenvolvidas. Como ocorreu com a América Espanhola.

Não veria, aí, a real possibilidade de uma quebra do poder das elites nesses processos regionais de independência (fim da escravidão? industrialização precoce?). Teríamos, por certo, episódios mais sangrentos na nossa história, mas não necessariamente resultando em países mais justos no território da antiga colônia portuguesa

A vinda de D. João tem o valor de ser um componente tão forte no molde que se fez a partir daí, criando o que temos e entendemos como Brasil.

Conjecturar o que resultaria da "não vinda" do Príncipe Regente, família e agregados é imaginar uma realidade tão alternativa que se torna pouco palpável e precisa. E que não necessariamente seria melhor do que a que temos.

feluc disse...

filipe,

eu achei interessante porque, de alguma forma, contraria o reflexo de manada que, às vezes, podemos observar. É só você lembrar das "verdades" que nos ensinavam no colégio...