Nestes difíceis tempos, em que uma senhora de 45 anos, que se autodenomina "Rainha dos Baixinhos" (não dos meus ! é bom frisar !), tem a coragem de gravar um tema que diz: "ti ti ti ti ti po po po po po, maninho, maninha, baixinho, baixinho, vamos, pula, pula, pula, pula, pula, pula..." - o qual abre um disco que vende cerca de 100 mil cópias (!?!?), repito, nestes difíceis tempos, este blogueiro, inconformado, traz a lume uma bela composição de Adriana Calcanhoto e do recentemente falecido Waly Salomão: "A Fábrica do Poema".
Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra,
Tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo; E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo; O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,
Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido
Acordo, e o poema-miragem se desfaz
Desconstruído como se nunca houvera sido.
Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas
E os ouvidos moucos,
Assim é que saio dos sucessivos sonos:
Vão-se os anéis de fumo de ópio
E ficam-me os dedos estarrecidos.
Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros
Sumidos no sorvedouro.
Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita
No topo fantasma da torre de vigia
Nem a simulação de se afundar no sono.
Nem dormir deveras.
Pois a questão-chave é:
Sob que máscara retornará o recalcado?
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