terça-feira, 20 de maio de 2008

Música com M Maiúsculo - capítulo II

Nestes difíceis tempos, em que uma senhora de 45 anos, que se autodenomina "Rainha dos Baixinhos" (não dos meus ! é bom frisar !), tem a coragem de gravar um tema que diz: "ti ti ti ti ti po po po po po, maninho, maninha, baixinho, baixinho, vamos, pula, pula, pula, pula, pula, pula..." - o qual abre um disco que vende cerca de 100 mil cópias (!?!?), repito, nestes difíceis tempos, este blogueiro, inconformado, traz a lume uma bela composição de Adriana Calcanhoto e do recentemente falecido Waly Salomão: "A Fábrica do Poema".

Sonho o poema de arquitetura ideal

Cuja própria nata de cimento

Encaixa palavra por palavra,

Tornei-me perito em extrair

Faíscas das britas e leite das pedras.

Acordo; E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.

Acordo; O prédio, pedra e cal, esvoaça

Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se,

Cinza de um corpo esvaído de qualquer sentido

Acordo, e o poema-miragem se desfaz

Desconstruído como se nunca houvera sido.

Acordo! os olhos chumbados pelo mingau das almas

E os ouvidos moucos,

Assim é que saio dos sucessivos sonos:

Vão-se os anéis de fumo de ópio

E ficam-me os dedos estarrecidos.

Metonímias, aliterações, metáforas, oxímoros

Sumidos no sorvedouro.

Não deve adiantar grande coisa permanecer à espreita

No topo fantasma da torre de vigia

Nem a simulação de se afundar no sono.

Nem dormir deveras.

Pois a questão-chave é:

Sob que máscara retornará o recalcado?

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