CRÍTICA JAZZ
Clássico de Miles Davis faz 40 anos e ganha edição de luxo
"Bitches Brew" foi o ápice da experiência do músico de eletrificar os instrumentos e abriu as portas do fusion
"BITCHES BREW" É UMA OBRA ATEMPORAL, COMPLEXA E SEDUTORA. NÃO TRAZ HARMONIAS OU MELODIAS SOFISTICADAS: TEMAS SIMPLES, REPETIDOS EXAUSTIVAMENTE, DE FORMA HIPNÓTICA, DITAM O CLIMA E O SABOR
FABRICIO VIEIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Há 40 anos, Miles Davis (1926-1991) realizava sua última grande cartada.
Se, para muitos, eletrificar os instrumentos e abrir as portas do fusion foi um lance imperdoável, para outros representou o início de uma nova era no jazz. O ápice dessa experiência do genial trompetista trazia o nome de "Bitches Brew" e chegou ao mercado em abril de 1970.
Como tem se tornado cada vez mais comum na indústria fonográfica, o marcante álbum acaba de receber uma edição de luxo, para celebrar suas quatro décadas de vida.
A caixa comemorativa oferece quatro CDs -com o disco original, sobras de estúdio e um show inédito de 1970- e um vinil duplo. Para completar os atrativos, há de bônus um DVD com uma apresentação do grupo de Miles em novembro de 1969, em Copenhagen, captada no período em que o mítico disco estava no forno.
"Bitches Brew" é uma obra atemporal, complexa e sedutora. O álbum não traz harmonias ou melodias sofisticadas: temas simples, repetidos exaustivamente, de forma hipnótica, ditam o clima e o sabor da peça. O lento desenvolvimento da faixa título, de 27 minutos, que abre com o trompete de Miles reverberando por meio de uma câmera de eco, ilustra bem o processo.
Sobre "Bitches Brew", o trompetista conta, em sua biografia ("Miles: The Autobiography"), que "as sessões de gravação foram um processo de desenvolvimento coletivo, uma composição viva", sem que houvesse material escrito ou ensaiado.
Apesar de ser um trabalho instrumental, com extensas faixas estampando o lado inteiro do vinil, "Bitches Brew" foi, na época, o disco de Miles com maior vendagem.
Gravado em três dias de agosto de 1969, teve a participação de 12 músicos, dentre os quais os futuramente famosos Chick Corea, Wayne Shorter e John McLaughlin.
Miles havia iniciado as pesquisas para eletrificar o seu trabalho um pouco antes de "Bitches Brew", em 1968.
Se a partir da década de 1970 passou a ser normal músicos de jazz usarem baixo, guitarra e piano elétricos, naquele momento as ideias de Miles soaram, para muitos, como heresia.
Tanto que em seu próprio grupo houve rejeição: o baixista Ron Carter acabou substituído por Dave Holland e deixou de participar do clássico álbum.
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BITCHES BREW - 40TH ANNIVERSARY COLLECTOR'S EDITION
ARTISTA Miles Davis
GRAVADORA Sony
QUANTO US$ 124,98 (R$ 220,59, mais taxas, importado)
AVALIAÇÃO ótimo